segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Projeto TV CELA é destaque no Site da Revista do Brasil

Programa de TV transforma



 O deputado estadual Hamilton Pereira (PT) - SP, participa do Programa TV CELA e responde as dúvidas das reeducandas.

Cotidiano de presas no interior de SP.
 TV Cela, programa produzido e apresentado por detentas de Votorantim (SP), aumentou a autoestima das mulheres no cárcere. Projeto é referência de ressocialização e inclusão social.

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual

Por: Suzana Vier

Até parece um pequeno estúdio de TV. Mas, um olhar mais atento logo nota que atrás do banner, dos cartazes e de um lençol, estão as grades da Cadeia Pública Feminina de Votorantim (SP). É numa espécie de gaiola, uma passagem para a área das celas, em que quatro detentas produzem o TV Cela, um projeto de inclusão social que está transformando a vida das presas de Votorantim.

"A intenção é usar os veículos de comunicação para levar às pessoas um entendimento maior do que é a carceragem e quebrar um pouco o estereótipo que se tem das pessoas que cumprem pena", aponta Werinton Kermes, coordenador do projeto.

Iara, de 25 anos, é apresentadora. Camila, de 22, e Bianca, de 32, são produtoras e Edicleusa, de 29 anos, é câmera do programa de TV.

"As detentas gravam depoimentos, dicas de artes, artesanato, que mostram que elas também têm habilidades e capacidade", afirma Luciana Lopes, jornalista e coordenadora do TV Cela. Entretanto, o conteúdo do programa não fica restrito ao mundo da detenção. As presas também abordam assuntos gerais que interessam à sociedade, como saúde, leis, trabalho, beleza e arte.

Entre os entrevistados, estiveram o prefeito de Votorantim Carlos Pivetta (PT), os deputados estaduais Hamilton Pereira (PT) e Maria Lúcia Amary (PSDB), o delegado seccional de Sorocaba José Augusto de Barros Pupin e o sociólogo Mario Miranda Junior, da Fundação Manoel Pedro Pimentel de Amparo ao Preso (Funap).

As reclusas já produziram sete programas de 30 minutos, da definição da pauta ao conteúdo. Cada programa tem um entrevistado, além de cenas do dia a dia das detentas de Votorantim, gravadas por elas mesmas. Inicialmente, estão sendo produzidos dez programas que são veiculados na TV Votarantim, TV Com Sorocaba e outras 40 tevês comunitárias do estado de São Paulo. A TV Justiça também vai retransmitir o programa.

"Eu fico com uma câmera aqui dentro 24 horas por dia. Filmo de manhã, à tarde, até à noite, quando trancam a gente", descreve Edicleusa, câmera do TV Cela, em entrevista ao programa de TV "Jogo de Cintura".

Por conta própria

O projeto do TV Cela teve início em setembro de 2009 com uma oficina de preparação das detentas para produzirem o programa. "Nosso objetivo não é transformar ninguém em câmera, ou jornalista. Mas, mostrar às detentas que elas têm condições de tocar a própria vida, de aprender, de serem produtivas, depois de cumprirem suas penas", analisa a coordenadora Luciana. "É para elas perceberem que têm capacidade de serem autônomas e de buscar algo melhor", enfatiza.

A ideia é motivar as presas a trabalharem por conta própria, caso não consigam emprego quando saírem da prisão e evitar que voltem ao mundo do crime. "Se elas não conseguem emprego numa loja ou numa casa, podem trabalhar por conta, ou passar roupa em casa, sem ter de ir à casa de outras pessoas", explica Luciana. "Não defendemos e não fazemos apologia ao crime, não achamos que são coitadas. São presas e, quando saírem, não queremos que voltem ao crime", esclarece a jornalista.

Novos horizontes

Edicleusa conta que andava sem rumo e atribui ao projeto um novo direcionamento à sua vida. "Eu andava quietona, sem um plano pro futuro... Hoje eu já penso que se eu sair daqui, eu vou continuar com o programa", prevê. "Foi importante esse projeto entrar na minha vida."

Para Iara, "a visão que nós temos lá da rua, que eu tinha quando estava lá antes de estar nesse lugar, é que tem pessoas horríveis, sem estudo, que demonstram agressividade, mas não é nada disso", considera.

"Quando o trabalho vem pra nossa mão, a gente tem que ler, estudar, analisar, pensar o que a gente vai poder falar e o que não vai. Por que a gente não pode atacar quem a gente tá entrevistando", ilustra Camila, produtora do programa.

De acordo com o delegado José Augusto de Barros Pupin, que acompanhou o projeto, enquanto trabalhava em Votorantim, o programa de TV criou harmonia e melhorou o convívio na cadeia. "Com absoluta certeza mudou a motivação, o respeito das presas com os funcionários, porque alguém está dando importância às pessoas que estão no cárcere", garante. "Elas eram ignoradas, subestimadas. Agora as pessoas demonstram que elas são importantes com esse programa", avalia.

Segundo Pupin, entusiasta da iniciativa, enquanto as rebeliões chamam atenção da sociedade por um viés negativo, o TV Cela chama atenção da sociedade de uma forma positiva. "Resgata a dignidade da pessoa humana", reflete.
O programa melhorou até mesmo a resposta dos órgãos públicos às solicitações das detentas. "O processo de transferência é mais rápido, para conseguir atendimento médico também. Há um esforço das pessoas que administram a cadeia para ajudá-las", menciona Luciana.

A Cadeia Pública Feminina de Votorantim tem capacidade para 48 mulheres, mas abriga 150. O número já chegou a 240 pessoas em oito celas. Uma das lutas das presas é pela desativação da carceragem, por falta de condições mínimas.

Povo marcado

O TV Cela dá continuidade ao programa de rádio "Povo Marcado", também realizado por detentas e coordenado pela mesma equipe de voluntários. O programa foi ao ar em 2007 e 2008. Documentário sobre o programa foi exibido em 28 festivais de cinema pelo Brasil, foi base para uma tese de doutorado na Alemanha e conquistou três prêmios, um deles no festival de Gramado, em 2009, na categoria vídeo-social.

O programa de TV recebe apoio de uma equipe de profissionais de comunicação voluntários, do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (Ceunsp), que realiza a edição dos programas.

"A inclusão social das companheiras detentas nos motivou a apostar no projeto. A integração, a inclusão, refletem nossa visão de sindicato cidadão", explica Ademilson Terto da Silva, presidente dos Metalúrgicos de Sorocaba.

Fonte: TV Cela

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