terça-feira, 21 de setembro de 2010

Transtornos mentais afetam 27% das crianças que trabalham em semáforos em São Paulo

Transtornos mentais, com necessidade de tratamento clínico, afetam 27% das crianças que trabalham nos semáforos paulistanos e 40% têm problemas emocionais ou de aprendizado.

Essas são algumas das conclusões de um estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com a organização não governamental (ONG) Instituto Rukha. A pesquisa avaliou as condições de vida de 126 jovens que passam os dias em cruzamentos e de seus irmãos, totalizando 191 menores.

Entre os jovens entrevistados, 72% relataram sofrer punições físicas severas, assim consideradas de acordo com critérios da Organização das Nações Unidas (ONU). A coordenadora do estudo, Andrea Feijó, descreve esse grau de agressão, como “apanhar com objetos repetidas vezes”, equivalente a surras de cinto ou a castigos semelhantes.

Segundo Andrea, a presença das crianças ganhando dinheiro nas ruas está diretamente relacionada a lares desestruturados. “Trabalhar no farol faz parte do universo de uma família muito desestruturada. Existe alto índice de violência dentro da casa”, ressaltou.

A violência é encarada, destaca a pesquisadora, de maneira pedagógica pelas mães .“Como medida educativa, era frequente que elas batessem nos filhos bastante”, relatou. Os castigos podem, no entanto, ter relação com a taxa de distúrbio que os jovens apresentam.

“A violência é um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais”, ressaltou Andrea. O ambiente agressivo dentro de casa, somado à falta de condições financeiras das famílias, acaba impulsionando as crianças para as ruas. Para Andrea, muitas mães concordam com o trabalho nos semáforos, porque “várias delas também foram crianças que trabalharam no farol e isso é um padrão que se repete por meio das gerações”.

A ONG que participou do estudo desenvolve um trabalho que une apoio financeiro a um processo de tutela das famílias, com o objetivo de tentar modificar essa realidade. “É como se o educador fosse uma mãe para cada um dos membros daquela família”, explica a diretora da ONG, Dirce Rosa.

O primeiro passo, com o Projeto Virada, é restabelecer a capacidade das pessoas assistidas pelo trabalho de criar vínculos. Segundo Dirce, são atendidas 200 famílias que vivem em áreas carentes na zona sul da capital paulista e que são “muito negligenciadas”. Essa situação de abandono, dentro e fora do núcleo familiar, acaba sendo, segundo ela, “a maior violência” sofrida pelas crianças .

Os educadores do projeto desenvolvem um trabalho que começa com ações simples, como orientar sobre a higiene das próprias casas. Mais adiante, as famílias recebem informações sobre seus direitos e como conseguir atendimento para serviços como tirar documentos e receber assistência médica.

Além disso, existe um auxílio financeiro, de R$ 350, para compensar a renda perdida quando as crianças deixam de trabalhar nos semáforos. Dirce destaca, entretanto, que o valor é apenas um terço do que o menor poderia conseguir fazendo malabarismos, vendendo balas ou pedindo esmolas. “Usamos esse recurso para cobrir uma necessidade, para que o trabalho possa ser feito e a família conquiste autonomia”.

Todo o atendimento é voltado para que depois de algum tempo a família esteja apta a deixar o projeto e a se cuidar por conta própria. Dirce destaca que o trabalho tem alcançado bons resultados, com melhorias para quase todos os atendidos. Ela reconhece, no entanto, que se trata de um processo caro e de difícil implementação. Mesmo assim, acredita na reprodução de iniciativas semelhantes em outras partes do país.

Fonte: Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo

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