quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PROGRESSÃO CONTINUADA - Mãe pede que a filha seja reprovada

Ao classificar o sistema como “criminoso”, o deputado estadual Hamilton Pereira denuncia que existe falta de vontade política para se investir na educação


“Não quero que minha filha passe de ano sem que esteja devidamente preparada”. A colocação é da mãe de uma estudante da rede estadual de ensino, que não concorda com o sistema de Progressão Continuada, pelo qual os alunos são aprovados automaticamente. Mas, diante da dificuldade em conseguir a reprovação da filha, a promotora de vendas L.D.A. decidiu chamar via imprensa a atenção para a questão, que inclusive foi programa de governo de vários candidatos ao governo do Estado. Para os professores, o atual sistema não beneficia os alunos e nem a eles próprios.


De acordo com a mãe, que não é identificada a fim de evitar algum tipo de constrangimento da filha de 11 anos, matriculada na 5ª série do Ensino Fundamental na EE “Professor Júlio Bierrembach de Lima”, no Jardim Santa Rosália, seria preferível que a garota repetisse agora, evitando assim que no futuro se depare com total falta de preparo, sem condições até mesmo de cursar nível superior.

A mãe explica que os problemas de aprendizado da filha começaram quando ela ainda estava na 3ª série, e que já a levou a fazer terapia, sem no entanto encontrar alguma explicação para sua dificuldade, a não ser sua falta de atenção. Para a menina, que também gostaria de ser reprovada, o problema estaria nas salas de aula muito lotadas.

De acordo com a promotora de vendas, que não pode manter a filha numa escola particular e nem mesmo pagar reforço para várias matérias, o ideal seria que o aluno não apenas frequentasse a escola, mas que aprendesse. Ela também acrescenta que até a menina gostaria de ser reprovada: “Ela fica triste por não conseguir acompanhar os colegas de classe, e por isso também gostaria de fazer novamente a 5ª série”.

Por isso, na tentativa de “salvar” a filha de ter um futuro profissional prejudicado, a promotora de vendas entregou para a diretora Maria Helena uma carta, explicando os motivos que a levaram a tomar essa atitude.

Mas embora a diretora tenha compreendido sua preocupação e se comprometido em ver o que poderia ser feito, a promotora de vendas percebeu que dificilmente teria a solicitação atendida, resolvendo então trazer à tona o problema por meio da imprensa. “Não faço isso só pela minha filha, imagino que existam outras crianças na mesma situação, e outros pais igualmente preocupados com o aproveitamento escolar dos filhos”. Entretanto, a promotora de vendas destaca que o problema não é a escola Bierrembach, onde inclusive estuda outra filha sua, mas sim o atual sistema de aprovação.

Sem reprovar

A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Educação do Estado de São Paulo informa que diretores e professores avaliam pedagogicamente o desempenho dos alunos, julgando se são capazes de prosseguir para a série seguinte.

Entretanto, sem responder sobre o encaminhamento dado pela diretora Maria Helena sobre o pedido da promotora de vendas para a reprovação da filha, a assessoria explicou que a progressão continuada no Ensino Fundamental é organizada em Ciclos de aprendizagem: o primeiro ciclo (Ciclo I) vai do 1º ao 5º ano e o segundo ciclo (Ciclo II) se estende do 6º ao 9º ano. Pode haver repetência entre os dois ciclos e no final do ciclo II. Portanto, 4ª ou 8ª série, o aluno pode fazer a recuperação de ciclo, permanecendo mais um ano nesta série.

Sistema distorcido

Para o professor de História, Alexandre Tardelli, coordenador da Regional da Associação dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), “o sistema, idealizado pelo educador Paulo Freire foi implantado sem que houvesse um debate, uma adequação, e na prática o que existe é promoção automática”.

Em total concordância com a mãe da estudante, Tardelli afirma que a promoção automática se dá por questões políticas, tendo como resultado o nivelamento por baixo. Segundo ele, “há muita pressão dos diretores sobre os professores para que os alunos sejam aprovados. Mas tem muitos diretores que não concordam, mas que são também pressionados pelas Diretorias Regionais”.

Com visão negativa do futuro profissional dos estudantes avaliados pela progressão continuada, Alexandre Tardelli admite que “se fosse para avaliar mesmo, mais da metade dos alunos não passaria. É que eu me atento ás questões de História, e não aos erros gritantes de português”.

Mas diante desse quadro, que como consequência também gerou menos reconhecimento profissional do professor, Tardelli defende que “o sistema precisaria ser aperfeiçoado, e implantar política pública e não política de governo”.

Quem também pensa como ele é o deputado estadual reeleito Hamilton Pereira (PT), que lembrou inclusive que a proposta de Aluísio Mercadante, candidado ao governo do Estado, era resgatar o projeto de autoria do Paulo Freire, “cuja ideia visava não penalisar o aluno, mas oferecer uma avaliação continuada com reforço escolar dentro e fora da sala de aula. Mas se tornou aprovação automática para virar estatística quantitativa e não qualitativa. É uma fábrica de analfabetos”, enfatiza.

Hamilton Pereira, que também compreende a atitude da promotora de vendas, aponta vários fatores que contribuem com o fracasso da progressão continuada, como classes superlotadas, e o fato de 45% dos professores não serem efetivos. Isso, segundo Hamilton, pode desencadear duas reações negativas: aluno e professor não criam referências, e os professores muitas vezes não têm nem tempo para avaliar o desempenho do estudante.

Ao classificar o sistema como “criminoso”, o deputado estadual denuncia que existe falta de vontade política para se investir na educação, sendo que com previsão orçamentária de R$ 142 bilhões para o ano de 2011, não há como tentar justificar falta de recursos, que para o setor serão de no mínimo 25% de toda fatia.

Jornal Cruzeiro do Sul

Fonte: Site do Deputado Estadual (SP) Hamilton Pereira (PT)

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